Histórias contadas pelos nossos avós…

Cantar os Reis

Juntava-se um grupo de pessoas e andavam pelas ruas das aldeias a cantar os Reis, normalmente em dias de matança. O frio da rua contrastava com o calor acolhedor vindo das portas que abriam para os receber. E logo as mesas se enchiam de comida: fumeiro, nozes, vinho, castanhas, figos secos. Era uma forma de presentear e agradecer as belas cantorias. Nos bolsos ainda levavam figos e nozes.
Com os corações cheios de alegria prosseguiam para a próxima casa, entoando cada quadra com uma magia única. Havia quadras para a chegada, para os donos da casa, para os convidados, para aqueles que não ofereciam nada e para a despedida.

“A gente foi daqui a Peleias, em Vinhais, cantar os Reis. Nós eramos garotas. Fomos no trator do Tonico de Oleiros. Na altura ainda só havia aquele trator. Fui eu, ela (Maria Assunção Gonçalves), o meu irmão, a Odete, o Joaquim, o meu pai e uns caseiros de Gondesende e que eram de Peleias. Foram eles que nos desafiaram. Fomos cantar ao senhor padre de Peleias, deu-nos bolo-rei que nós nunca tínhamos comido. Foi a primeira vez que comemos bolo-rei. Depois fizeram baile. “ Adelaide Gonçalves, Maria Assunção Gonçalves – Portela

“Íamos de noite a Gondesende Cantar os Reis.” Infância Gonçalves, 84 anos - Portela

Estes Reis do Oriente
Seguiram o seu destino
Guiados por uma estrela
Vão adorar o Deus Menino

Deitai os olhos ao céu
Que lá vereis uma cruz
Com cama e travesseiro
Para o menino Jesus

Nossa Senhora faz meia
Com uma agulha que reluz
O novelo é a lua cheia
E as meias são o Menino Jesus

Adorai a Deus Menino
Que é Jesus de Nazaré
Filho da Virgem Maria
E esposa de São José

Ainda agora cheguei
Pus o pé nesta escada
Logo o meu coração disse
Aqui mora gente honrada

Esta casa é caiada
Tem assentos de vidro
Muitos anos vivam nela
A mulher e o seu marido

Viva o senhor João
E os anos que deseja
Viva também uma rosa
Que recebeu na igreja

Quem diremos nós que viva
Por cima da salsa crua
Viva a menina Maria
Que alumia toda a rua

Viva o menino Porfírio
Por cima do carrascal
Na província de Trás-os-Montes
Deus o faça general

Esta casa é caiada
Tem assentos de gesso
Viva os senhores de fora
Que o pronome não conheço

Viva lá o senhor António
Que já tem a porca morta
Se nos quer dar os Reis
Venha-nos abrir a porta

Despedida, despedida
Como faz a cereja ao ramo
Passe muito bem a noite
Adeus até para o ano

Despedida, despedida
Como faz o rouxinol
Que se despede a cantar
Não há regalo melhor
Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

Ainda agora aqui chegámos
Preparados para cantar
Se os senhores nos dão licença
Nós vamos começar

Quem lhe vem cantar os Reis
No casquinho da cebola
Viva lá o senhor João
E também a sua senhora

Quem lhe vem cantar os Reis
Num açafate de fitas
Viva lá menina Adelaide
Que é das cores mais bonitas

 Quem lhe vem cantar os Reis
Num açafate de rosas
Viva lá a menina Infância
Que é das caras mais formosas

Quem lhe vem cantar os Reis
Entre o lume e a brasa
Viva Lá menina Maria
Que é o miminho da casa

Viva lá o senhor Zé
Com o seu relógio no peito
Quando passa pelas moças
Pisca-lhe o olho direito
Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela

Estes barbas de farelos
Não têm nada que nos dar
Só têm uma arquinha velha
Onde os ratos vão cagar
Infância Gonçalves, 84 anos - Portela

Estes reis que aqui cantamos
Tornamo-los a descantar
Estes barbas de farelo
Não têm nada que nos dar
Maria Assunção Gonçalves, 81 anos – Portela

Quem lhe vem cantar os Reis,
Pela buraca da porta,
Dê-nos uma chouricinha
Que já tem a porca morta.

Aqui caga o Rei
Aqui caga o Papa
Se não nos dão os Reis,
Fazemos aqui a caca...

 

 

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