Histórias contadas pelos nossos avós…

Saúde

Lá vão os tempos em que as doenças eram tratadas em casa com mézinhas, benzeduras ou por curandeiros que muitos tratavam por médico. O curandeiro andava de porta em porta e recebia no final do ano. Era pago em centeio. Com o carro dos bois o pai de Emília Pires dava a volta à aldeia de Portela para recolher o centeio para entregar ao médico.

António Pires era médico, era de Zeive… quando precisavam dele tinham de ir a pé chamá-lo. Emília Pires, 87 anos, Portela

“Lembro-me do Castro, o cirurgião, andava pelas aldeias de cavalo.“ Abílio Elias dos Inocentes, 87 anos, Portela

A falta de conhecimentos de medicina levava à morte e a tratamentos, por vezes, agonizantes. Morreu muita gente de diarreia, pneumonia, lentilhas. As “lentilhas” eram tratadas com ferros quentes aplicados na zona afetada. Era uma das doenças mais preocupantes na altura, que levava inclusive à morte do doente. A temperatura do doente começava a subir gradualmente e decorridas 24 horas sem tratamento o doente morria. As lentilhas eram umas “borbulhas” que no centro faziam umas covinhas brancas e em redor tinham uma tonalidade vermelha. O povo dizia que era a picada de uma mosca. O tratamento fazia-se queimando as borbulhas com ferros rojos. No ar ficava um odor a carne queimada. Só mais tarde vieram os tratamentos com injeções. Ainda hoje há pessoas com marcas deixadas pelas lentilhas.

“…o João, o meu irmão, tem marcas das lentilhas na cabeça e na cara. Havia um médico curandeiro que veio curar os meus irmãos e o meu pai. Ao meu pai queimou um tendão por engano, deixando-o com os dedos defeituosos.” Emília Pires, 87 anos, Portela

“Mais tarde também tive lentilhas, mas já havia injeções. Só aí é que fui ao médico, coloquei a mão assim em cima da mesa e depois ele “Ai, tira a mão, tira a mão dai” , ai se lá pegava por pôr a mão na mesa.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela.

“A pneumonia curava-se em casa com umas ventosas, com uns copos.” Maria Adelina, 79 anos, Portela

Às vezes nasciam umas feridas, chamavam-se nascevilhos…” Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela “… eram uns inchotes, começava o dedo assim a inchar ou os pés ou as mãos” continuou Infância Gonçalves, 84 anos, Portela. “…eu ainda tenho aqui marcas numa perna. Nunca nos levavam ao médico. Os medicamentos era casca de cebola quente num bocadinho de azeite e depois metia-se em cima dos pés, das mãos…” disse Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela.

Íamos a lavrar, eu ia com o meu falecido pai… Havia um caminho e umas pedras. No caminho havia muito água e as pessoas não conseguiam passar. As pessoas iam pelas pedras e as vacas iam pelo caminho. Eu ia no carro das vacas e caí do carro abaixo. E fiz esta ferida, mas fui na mesma trabalhar… botava muito sangue e depois o meu pai botou-me aqui um cigarro para queimar e parar o sangue. “ Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela.

… e punham também os ovos de cuco quando tínhamos alguma ferida que deitava sangue. Para o sarampo tínhamos de nos embrulhar num cobertor vermelho.” Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela.

“Se a gente tivesse uma ferida ruim com caroço, colocava-se em cima papas de linhaça para amadurar, para curar. Quando a ferida estava para ganhar pus rebentava logo e deitava aquela porcaria cá para fora. A gente colocava a linhaça do linho a torrar no lume e depois com um almofariz ou com uma garrafa em cima de um pano desfazíamos a linhaça, ficava em pó. Amassava-se a linhaça com um pouco de água e colocava-se na ferida.” Emília Pires, 87 anos, Portela

Antigamente a causa de morte quase nunca era referida nos registos paroquiais. Nos livros de registos paroquiais da freguesia de Gondesende de 1860 a 1910, que tivemos acesso, escritos pelos Abades Augusto Batista Gonçalves e Joaquim José Rodrigues, nunca foi referida a causa da morte nos óbitos. Constatou-se ainda a existência de um maior número de óbitos entre os recém-nascidos e crianças até aos 5 anos.

“Muitas vezes morriam e não sabiam do que era.” Natália dos Anjos Fernandes, 76 anos, Portela
 
Dantes morriam sem nunca ter ido ao médico.” Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

“Quando alguém estava doente o padre ia visitar o doente e dava-lhe a comunhão. Ia uma procissão atrás do padre. Uma pessoa levava a caldeirinha, outra levava a cruz, iam também as hóstias. Até arrepiava.” Emília Pires, 87 anos, Portela

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