Histórias contadas pelos nossos avós…

Cantigas da Segada

Durante a segada, homens e mulheres andavam sempre a cantar. As canções em coro ou ao desafio faziam “esquecer” o trabalho árduo, o cansaço e o calor que abrasava o corpo. As cantigas seguiam o ritmo da foice que nunca parava. A escolha das cantigas adequava-se à altura do dia e, embora nem todos tivessem voz de rouxinol, participavam na mesma. Eram momentos de muita animação e algumas gargalhadas.

Alguns não cantavam muito bem e nós toca a rir, a rir. Quando era assim, era um enchente de rir. O meu cunhado Eduardo e a minha cunhada Maria Adelaide andavam ali na Ladeira e olhe ouvia-se daqui, eu estava aqui em casa a fazer a comida e ouvia. Divertiam-se.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

 

O GASTADOR
(cantada à noite na segada)

Agora baixou o sol
Louvado seja o senhor
Eu casei com uma donzela
Filha de um lavrador

Ela era muito poupada
E eu um grande gastadore
Gastei o meu e o dela
E o que nos deu o Senhor

Depois de tudo gasto
Aprendi a podadore
Depois da vinha podada
Esvidará tu ó meu amor

Eu tenho os dedos delgadinhos
Não a posso esvidar, não
Meu amor se fores à feira
Lá prós lados de Aragão
Trás-me de lá linhas e seda
bordaremos um pendão

Numa ponta põe-se a lua
Na outra o raio do sol
Lá no meio disso tudo
Jesus Cristo Redentor
Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela

 

Alta vai a lua
(cantada antes do meio dia)

Alta vai a lua alta
mais q(e) sol do meio-dia;
mais alta vai a Senhora
quando para Belém ia;          

Madalena ia trás dela
e alcança-la não podia;
e alcançou-a em Belém
onde o menino dormia;

Era tanta a sua pobreza
que nenhum cueiro tinha;
deitou mãos à sua cabeça
a um véu que ela trazia

 Agarrou tisourinha d’ouro
e em três tiras o partia;
uma para pela manhã
outra para o meio-dia
e outra para o meio da noite
onde Jesus envolvia

Indo eu por aí abaixo
(cantada depois do almoço)

Indo eu por aí abaixo
Em busca dos meus amores
Encontrei um laranjal
Carregadinho de flores

Deitei-me á sombra dele
Pra que não me queimasse o sole
acordei de madrugada
Ao cantar do rouxinol

Rouxinol que tão bem cantas,
onde foste aprendere?
Ao palácio da rainha
onde o rei estava a escrever

O rei estava na varanda
A rainha no quintal
Atirando-se um ao outro
Com pedrinhas de cristal
Um atira e outro atira
Sem se poderem chegar
Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

Ó macieira do adro

Ó macieira do adro,
oh do adro macieira
Coradinha de casada
O que faria de solteira

Ò maçã que estás corada
Na coroa da macieira
Se te deixas emanar
Já não achas quem te queira
Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

Cantarinha

Minha mãe mandou-me à fonte
Pela hora do calor
Eu quebrei a cantarinha
A dar água ao meu amor

Oh minha mãe não me bata
Com a vara de marmeleiro
Estou muito doentinha
Vá-me chamar o barbeiro

O barbeiro já lá vem
Com o lancete na mão
Para lancetar a menina
Na veia do coração
Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

 

 

 

 

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