Longe vão os tempos em que não havia televisão e as pessoas passavam, os poucos momentos que tinham de descanso, à lareira, nas escadas ou à soleira de casa na companhia de amigos e familiares.
Ao serão juntavam-se na casa uns dos outros à luz de candeias. As mulheres estavam sempre a trabalhar.
“De Inverno, era aqui à lareira umas vezes a fazer escarramiçadas, outras vezes fiava-se, outras vezes torcia-se a lã, outras vezes fazia-se a meia.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
Os homens jogavam às cartas (sueca, chicalão, ao burro, sete e meio, montinhos). O silêncio era cortado por longas conversas e histórias e, algumas vezes, alguém pegava no realejo ou/cantava uma cantoria e logo começavam a dançar numa alegria que contagiava a todos. Havia ainda aqueles que ficavam simplesmente a admirar a vida noturna dos morcegos e a sua beleza impar.
Ao domingo era dia de descanso. Os homens jogavam jogos dos paus, do fito. Mulheres e homens faziam jogos de roda.
Quando havia neve era uma diversão, jogava-se à pelotada. Atiravam neve uns aos outros.
Os bailes eram muito frequentes, raros eram os domingos em que não havia bailes. Durante o dia, os bailes faziam-se nas eiras, à noite na casa do povo ou não casa de um conterrâneo que tivesse uma sala/salão com espaço suficiente para os “casais” dançarem. Com tocadores “improvisados” fazia-se um baile. Os homens da aldeia, que soubessem tocar realejo ou/e bandolim, eram os tocadores do baile. Os bailes eram ansiados por homens e mulheres porque era onde começavam muitos namoricos e onde os “namorados” tinham oportunidade de conversar e estar juntos.
“Tocavam bandolim e no início realejo. O tio Alfredo tocava, o tio Américo, o meu irmão também tocava muito bem, o Joaquim, o Ernesto. Então fazia-se num domingo, assim que a gente se juntasse começava logo.” Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela
Realejos
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Tocar Realejo
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Realejo
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“Se era à noite alguns rapazes vinham pedir autorização aos pais das raparigas, mas nem sempre eles nos autorizavam a irmos aos bailes. Se soubessem de algum namorico mais coiso ou se andava algum rapaz de fora por aqui, nós mais garotas já tínhamos de ir com uma pessoa de confiança. A tia da Julieta ou a minha tia, a Maria José, se elas fossem deixavam-nos ir.” Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela
“ Se não nos agradasse, nós não íamos danças com eles. Dávamos-lhes uma tábua. - Já levei uma tábua, já levei uma tábua, diziam uns para os outros. “ Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela
“Mas naquela altura épica (anos 70)… as raparigas davam tábuas se não gostassem da nossa cara...!! Porém havia um costume de cortesia, da parte dos rapazes: o organizador do baile, determinava que uma dança seria só para a malta de fora, então ninguém do lugar chamava elas pra dançar. Isso era legal. Em Gondesende, chegamos a fazer bailes com um realejo (gaita) tocada pelo Carlos Afonso, com acordiom ou concertina… depois gira discos. ” Luís Morais, 64 anos, foi caseiro do Ramirinho de Gondesende, atualmente vive no Brasil
“Para convidar às vezes só piscavam o olho, se dançasse bem a gente aceitava se não dançasse…” Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela “… a gente fazia que não via” concluiu Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Se nos convidasse um que dançasse bem, era pra primeira dança, depois outro que também dançasse bem era para a segunda, outro para a terceira… depois ele dizia “- olha, eu só vou para a terceira”. Se não prestasse dizíamos - não, já tenho par.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Mas vinham de outras aldeias. Os de Castrelos dançavam muito bem. Mesmo que a gente não soubesse, começavam eles e a gente já ia.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Eu não sei também como é que os rapazes de fora sabiam… “Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela “não havia telefone, não havia nada. Mas eles apareciam logo. Vinham de Fontes, de Donai, de Espinhosela, Castrelos, Gondesende… eu não sei como é que eles sabiam. “ continuou Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Uma vez eram 12 tocadores. Tocavam viola, rebeca, violão, … Tocavam muito bem, pareciam mesmo profissionais. “Maria Assunção Gonçalves, 81 anos, Portela
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