A tarefa de confeção da comida para dar aos trabalhadores da segada era da responsabilidade das mulheres.
“Ajudava-me a mãe do Luís e outras vezes a mãe da Domicilia. Elas ajudavam-me a fazer o comer, depois eu ia levá-lo, vinha, lavávamos os pratos e toca a arranjar tudo outra vez para ir levar mais comida. Elas ajudavam-me a mim e depois eu ajudava-as a elas.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Mas comia-se bem. A gente ia logo cedo e comia logo o mata-bicho.” João Pires, 81 anos, Portela
Mata-bicho
De manhã bem cedo, antes de iniciar a cegada, comiam o mata-bicho.
- Aguardente doce
- Queijo
- Pão
- Nozes
Almoço – 09h00
- Batatas
- Bacalhau cozido
- Cusco
Taco – 11h00
- Salada de bacalhau com azeitonas
- Queijo
- Presunto, salpicão
- Pão
Jantar – 13h00
- Sopa
- Arroz
- Massa
- Carne Estufada ou orelhas de porco cozidas
- Batatas
- Feijão cozido
- Salada
O jantar, como na altura lhe chamavam, era servido às 13h00. Após o jantar, recuperavam as energias e os corpos alagados em suor numa sesta, que durava entre uma a duas horas. Procuravam sombras refrescantes e aí uns repousavam o corpo, outros acabavam por “passar pelas brasas” e ainda havia aqueles que faziam “partidas” ou “macacadas” como Infância Gonçalves lhes chama.
“… então à Rosa não lhe penduraram as botas num carvalheiro enquanto ela dormia… faziam isto aos mais dorminhões… outros coisavam as cangalhetas numa linha e prendiam-se assim nas calças…” Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela
“…aqueles que dormiam mais prendíamos as pernas uns aos outros e depois, quando se iam levantar, tinham as pernas presas uns aos outros. Fazíamos cada uma. Mas ninguém levava a mal, era tudo na brincadeira.” Hermínio Tomé, 75 anos, Portela
“Levávamos a comida em cima da burra ou da égua. Na alforja. Até eram dois pares delas.” Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela
“Levavam-se pipos grandes de 15 e 10 litros de água e vinho. Punham-nos numa nascente para que estivesse sempre fresco. Alguns emborrachavam-se, aquecia muito e depois diziam “Venha o pipo, venha o pipo.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
Nas terras vizinhas viam-se outros grupos de segadores, outras “camaradas”, que trabalhavam para outros patrões. Nessa altura, quase todas as terras tinham trigo e centeio.
“Depois ao lado estava tudo semeado em muitas terras, não era só na nossa. Haviam muitas camaradas.” João Pires, 81 anos, Portela
“Quando íamos para Oleiros andavam lá muitas camaradas, de Oleiros, de Carragosa, de Terroso, juntavam-se assim muitas camaradas e cada uma levava de comer aos seus. Então se viesse uma mulher com a comida mais tarde, se fosse pouca diferença não, mas muita até lhe varriam o caminho, enchiam-na de tardega, “Oh Tardega”, ninguém queria levar o rol de tardega.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela
“Quando as mulheres iam levar as refeições à cegada e chegavam mais tarde, dizíamos logo assim: - olha, já se avistam as orelhas à burra.” Hermínio Tomé, 75 anos, Portela
Merenda – 16h00
- Vinho doce
- Cordeiro assado (alguns patrões)
“Com o vinho fazíamos sopas de cavalo cansado. Era vinho com açúcar e pão de centeio.” Hermínio Tomé, 75 anos, Portela
Ceia
- Caldo Verde
- Castanhas assadas ou piladas
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