Histórias contadas pelos nossos avós…

Ciclo do Pão

O trigo e o centeio eram semeados em Outubro/Novembro e colhidos em Julho e Agosto. O serôdio semeava-se mais tarde, normalmente entre Fevereiro e Março.

Não havia dinheiro dantes, ajudavam-se uns aos outros. Uns dias para uns, outros dias para outros. Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

Nós íamos para aqueles, aqueles vinham para nós. Juntava-se uma camarada de 12, 13 pessoas. Olha para o tio Aníbal uma vez eramos uns 20.Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela

O ciclo do pão passa pelas seguintes fases:

1 - A terra é lavrada com a ajuda de juntas de bois e do arado, os cereais são semeados em Outubro/Novembro e em Julho e Agosto é feita a ceifa. Começavam a cegar mal os primeiros raios de sol nasciam e, de costas baixas e com a foicinha na mão, iniciavam um longo dia de trabalho. Os chapéus de palha de serôdio protegiam-nos do sol quente e os dedais de cabedal, que revestiam três dedos da mão esquerda, eram uma segurança contra um possível corte com a foice.

Homens e mulheres cortavam o cereal em pequenos feixes, as gavelas. Os homens juntavam 3 ou 4 gavelas, formando um molho que atavam com a própria palha (granheira). As granheiras eram os trançados que os homens faziam com a palha do cereal para atar os molhos.
Depois juntavam vários molhos e formavam os mornais, que ficavam nos terrenos até ao fim da cegada. Como os cereais não eram logo transportados para as eiras, faziam-se os mornais para abrigar as espigas do trigo e do centeio da chuva. Além disso, era mais fácil carregar os carros dos bois com mornais, do que andar com os carros pelo terreno a apanhar centenas de molhos.

Os homens é que iam atar os molhos, algum homem que não ia atar chamavam-lhe logo segadeira. Olha aquele é a segadeira. ” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“Estava muito calor e não fazia mal. A gente aguentava tudo. Agora às vezes dá-me para chorar. Quero fazer as coisas e não consigo. “ Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela

Dedais

Dedais

Foice

2 - Os carros de bois/vacas eram carregados pelos homens. Nas eiras formavam as medas. As medas eram “construídas” em pirâmide com as espigas voltadas para o interior, de forma a proteger os grãos de trigo e de centeio da chuva e das picadas dos pássaros mais atrevidos.

“… às vezes até se tombava algum carro… e íamos enxotar as moscas a algumas vacas que não estavam quietas.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“Podia chover que nunca se viu uma meda que entrasse água.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

3 - Homens e mulheres juntavam-se nas eiras para malhar os cereais. Os molhos eram atirados das medas e, depois de abertos, espalhados nas eiras. Com o malho os homens batiam nas espigas para soltar os grãos num constante vaivém e força muscular. As mulheres viravam as espigas para serem malhadas do outro lado. Depois, juntavam os grãos com o rodo.
Os grãos de centeio e trigo eram limpos na limpadeira, máquina manual movida pela mão dos homens. O grão armazenava-se nas tulhas (arcas de madeira).

“A gente baliava, mas depois ainda vinha uma limpadeira limpar o pão, ainda era outro dia quase de malha. A limpadeira vinha de fora, cá não havia. Também era paga a pão. ” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

Mais tarde, a malha passou a ser feita por uma máquina, a malhadeira. Uns no cimo da meda atiravam os molhos para o chão, outros lançavam-nos para a malhadeira. Outros em cima da malhadeira cortavam a granheira e metiam a palha na malhadeira. A malhadeira debulhava o cereal.
Da malhadeira saia:
- Palha que ia para o medeiro, que depois servia para estrumar;
- Os cuanhos para as vacas comerem;
- Os grãos de cereais para fazer pão.

“A primeira malhadeira que me lembro era do senhor António dó Cabo, um homem ali de Gondesende. Era a pagar, mas não era a dinheiro, tudo pago a pão. “ Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“O trigo depois tinha de ser lavado em caldeiros de cobre, o centeio não.” Adelaide Gonçalves, 82 anos, Portela

“Naquele tempo a gente nunca se cansava.” Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

4 - As pessoas levavam o grão de trigo ou centeio aos moinhos comunitários. Deitavam os cereais na tramóia (utensilio em forma de triângulo invertido). A força da água fazia rodar o rodízio e o rodízio fazia mover a mó. Os cereais saiam da tramóia e caiam lentamente na mó. A mó rodava e moia os cereais, transformando-os em farinha. A farinha caía para o torneiro e depois apanhava-se para os sacos.
Com os carros das vacas transportavam a farinha para casa.

“Este moinho aqui em cima era só de Inverno, enquanto tinha água a gente aproveitava. Quando este não tinha água, íamos ao moinho do rio. “ Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“O trigo tínhamo-lo de dar ao moleiro, não tínhamos pedra alveira. Umas pedras são só para o centeio e outras só para o trigo. Mas depois mais tarde pusemos uma pedra alveira também. Quando era o moleiro eram dois sacos de cada vez. O moleiro tirava ele a maquia, ficava com o queria. Às vezes diziam “Arre porra que assim roubou”. A farinha cresce, se levassem dois sacos de grão, depois já não cabia nos sacos. Mas quando ia para o moleiro não.“ Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

Moinho da Veiguinha

Moinho da Veiguinha

Moinho - tramoia e mó

5 – Com a farinha faziam o pão nos fornos a lenha.

“O trigo era só para as festas e para vender. O meu homem ficou cheio de centeio. Toda a vida a comer centeio. Eu gosto tanto dele.“ Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“O serôdio era para fazer pão também. Semeava-se menos e misturava-se com o trigo quando era na matança, nas festas.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

Pão caseiro

Forno a lenha

A cruz do forno a lenha

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