Histórias contadas pelos nossos avós…

Sapateiro

Em Portela existiram 2 sapateiros, o senhor Porfírio e um irmão, o Silvino.
Andavam pelas aldeias de porta em porta, a pé, com um saco de cabedal ou caixa de madeira às costas. Na caixa transportavam as ferramentas de trabalho: as formas, a enxó, o martelo de espetar as brochas, o martelo de sola, o machado, as pontas de paris, a turquês. Às margens do rio Baceiro iam buscar pau de amieiro para fazer as solas.

Faziam serviços de sapateiro em Gondesende, Oleiros, Espinhosela, Lagomar, Donai, Fontes Barrosas, Gandrais, Castrelos, Conlelas, Soeira, Fresulfe, Terroso. Saíam de casa à segunda-feira e só regressavam quando o serviço estava concluído. Durante esse período de tempo, comiam e dormiam na casa dos patrões, onde faziam os serviços. Nas povoações vizinhas, iam e vinham no mesmo dia, de noite, iluminados por candeias. 

Faziam socas, sapatos e balalaicas. Um par de sapatos normalmente levava um dia a fazer, isto nos dias maiores como em Maio e Junho, e eram usados ao domingo. Num dia chegavam a fazer 3/4 pares de socas. De Inverno trabalhavam até às 23/24 horas, à luz de candeias de petróleo ou azeite. De Verão havia menos serviço e trabalhavam apenas durante o dia.

Só faziam serviços a dinheiro, à jeira (1 dia de trabalho). Por um dia de trabalho recebiam 25 escudos, 30 escudos, 40 escudos mais para o fim. Os patrões compravam em Bragança os materiais necessários para a execução do calçado. Os sapateiros recebiam apenas pela sua mão-de-obra.

O senhor Porfírio começou a trabalhar ainda em garoto (finais dos anos 30). Aprendeu a profissão de sapateiro com o irmão, tendo sido criado do irmão mais de 2 anos. O irmão era o Mestre e ele o criado (o irmão é que lhe pagava e não os clientes. O mestre ganhava mais e recebia dos clientes). Depois passou a Mestre e outro irmão veio aprender com ele, o Joaquim.

“Fez uma caixa de madeira, eu agora digo-lhe assim “ai Meu Deus homem andar com aquilo às costas, daqui para Terroso”. Colocava uma correia de cabedal ao ombro e lá ia com aquele caixote. Aquilo era um atraso de vida, fosse ele até de pano. Aquilo pesava e então metia lá eram fivelas, o corta arame, o arrancador de pregos, o martelo, as formas, sovelas … Depois mais tarde fez um saco de outro material, o peso das coisas era o mesmo, mas pelo menos era macio, agora com aquelas tábuas às costas. “ Emília Pires (esposa de Porfírio Augusto), 88 anos, Portela

Caixa de Madeira das ferramentas, o «caixote»

Ferramentas do Sapateiro

“Gostava de ser sapateiro e não paguei para aprender porque aprendi com o meu irmão. Mas o meu irmão tinha empregados que lhe pagaram para aprender a profissão de sapateiro. Eu ainda ensinei o meu irmão Joaquim, mais novo que eu, e outro senhor.” Porfírio, 92 anos, Portela

“Quando precisavam vinham saber de nós. E lá ia eu. Chegava a ficar oito dias em algumas povoações, outras mais perto vinha no próprio dia.” Porfírio Augusto, 92 anos, Portela

“Às refeições envergonhava-me e com a pressa queimava o céu da boca e a língua. Era novato e não me queria atrasar para o trabalho de sapateiro.“ Porfírio Augusto, 92 anos, Portela

“Quando era Inverno à noite, no fim de cear, o pessoal amigo da povoação, ia para o pé de nós conversar e ver-nos trabalhar.” Porfírio Augusto, 92 anos, Portela.

 

 

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