Histórias contadas pelos nossos avós…

Tudo começa com a tosquia das ovelhas em Maio ou Junho para que consigam suportar o calor dos meses quentes e, aquando da chegada dos tempos frios, já tenham lã para se proteger dos invernos rigorosos. Com uma tesoura cortam a lã da ovelha.

“Quando faziam a tosquia nós íamos ao monte da lã e escolhíamos os veldros melhores, a lã mais amorosa para fazer a meia. A outra lã era para vender, para fazerem cobertores. Eu trocava a lã por cobertores feitos. Foi assim que consegui arranjar cobertores. ” Imperatriz do Fundo Oliveira, 63 anos, Portela (esposa de um pastor)

“Os peleiros andavam pelas aldeias de porta em porta a comprar as peles das ovelhas, cabras, raposas e até a pele dos coelhos. Pelas peles das raposas chegavam a pagar 3000 ou 4000 escudos. “Hermínio Tomé, 75 anos, Portela

“Vendia-se a lã a 1000 escudos. Depois já se dava porque ninguém a queria comprar.” Aníbal, antigo pastor de Portela

A lã é lavada com água quente para a limpar de toda a sujidade. Depois, é colocada a secar.

“A lã tem de ser bem lavada porque tem muita gordura. “Imperatriz do Fundo Oliveira, 63 anos, Portela

Chega a altura das mulheres escarramiçarem a lã. A dona da lã convidada as outras raparigas da aldeia para esta tarefa. Escarramiçar consiste em abrir a lã e tirar algumas impurezas como ervas, deixando-a sem nós. A lã fica macia para depois ser mais fácil de fiar. No fim do trabalho, era chegada a hora por que todos ansiavam, o baile.

“…lavava-se a lã, depois chamava-se a gente “Olha tal noite…”. Fazia-se a escarramiça e depois fazia-se o baile. Matava-se o bicho...“Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“Para fiar escolhia a lã mais amorosinha, se era áspera não a queria. Há lã muito amorosinha, parece até seda, não pica muito. Há outra que é ruim, parece tascos. ” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

Com o fuso e a roca, as mulheres fiam a lã, transformando-a num fio. A lã é torcida para ficar mais resistente. Depois a lã é trabalhada com várias agulhas para fazer a meia, camisolas e ainda se fizeram combinações e saiotes.

O tio César usava as meias de Inverno e de Verão. O que tira o frio também tira o calor, dizia ele.”Odete Esteves, 60 anos, Portela

“… e ainda fizemos combinações. Para cima fazíamos de um feitio e para baixo mais rodadas. As meias de lã, tanto os homens como as mulheres, traziam as meias e não picavam nada e agora se a gente as puser picam, já ninguém as aguenta.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“ …as mulheres usavam saiotes de lã. Dantes não se usavam calças. Lembro-me das mulheres mais antigas usarem saiotes de lã, vestiam uma camisa fina por baixo porque os saiotes de lã picavam muito no corpo…”Imperatriz do Fundo Oliveira, 63 anos, Portela

A lã tinha vários destinos:
- Vendida ao peleiro;
- Fiada com a roca e o fuso, dobada e torcida. Depois, as mulheres faziam a meia, camisolas, saiotes com a ajuda de agulhas. Neste processo eram escolhidos os fios melhores, os mais finos e macios.
- A lã mais grossa ia para os cobertores, que eram feitos em teares.  
- Era cardada e depois ia para o Pisão, onde era obtido o pardo. O pisão era movido a água como o moinho. O movimento da água acionava martelos de madeira que pisavam constantemente a lã. A lã era batida e escaldada. Depois o pardo era tingindo e com ele o alfaiate fazia capas, calças, casacos.

“O tear da Belmira não fazia cobertores de lã, nem o pardo. Lá só lençóis, colchas, sacos e acho que também mandilas. A lã para os cobertores a gente mandava-a para Vila Boa e Fontes e mais tarde para a Guarda. Levavam a lã, fiavam-na lá e faziam os cobertores nos teares.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“Havia quem mandasse a lã para os teares para fazerem cobertores ou colchas para si. “Maria Adelina, 79 anos, Portela

“Escolhíamos a lã melhor para a meia. O resto ia para o pardo e para os cobertores. Só tiravam-mos alguns veldros que não serviam para nada. “Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

“…também vinha um cardador cardar a lã. Depois ia para o pisão e depois vinha um pano rijo, duro, já não sei como é que era… Depois faziam-se capas, casacos, calças. O alfaiate vinha a casa e fazia aqueles casacos muito bem feitos, que eram tingidos de preto negrilho. A gente fazia a tinta de casca de amieiro e acho que ainda se comprava mais alguma coisa.
O cardador cardava aqui, trazia as cardas e cardava. A gente dava-lhe de comer e pagava, já não era com lãs. O cardador era com dinheiro. Era assim.” Infância Gonçalves, 84 anos, Portela

 

  PROMOTOR   APOIO   COLABORAÇÃO  
  azimute   aldeia pedagógica