Histórias contadas pelos nossos avós…

Um Pastor, um Artista

Há ditos que os pastores desenvolvem habilidades artísticas. Aníbal Augusto Rodrigues “recebeu” um legado deixado pela sua antiga profissão, pastor. Habilidade que ganhou dos tempos em que fazia os seus próprios cajados de pastor. Tornou-se um mestre na elaboração de cajados. Hoje já não faz cajados de pastor, mas muitos dos cajados dos idosos da aldeia de Portela são feitos por si.

“Faço os cajados com pau de freixo ou marmeleiro. Tenho de cortá-los, aperfeiçoá-los, pô-los ao lume para tirar a casca. Já fiz para a Emília, para a Adelaide, para a Infância… faço para quem precisar. Ainda tenho guardado o que fiz para a minha mãe, Deus a tenha em descanso. É uma recordação. Este aqui meti-o no vinho, quando o vinho estava a ferver, e ficou com esta cor bonita.” Aníbal Augusto Rodrigues, 72 anos, ex-pastor, Portela

Nas horas vagas Aníbal Augusto Rodrigues escrevia poesia. Retratou parte da sua vida em poesia, os tempos de escola e mocidade. Escrevia num caderninho que infelizmente foi de viagem com uma antiga namorada. No entanto, ainda tem consigo um poema que escreveu sobre a profissão que exerceu durante 19 anos.

O PASTOR
Logo ao romper da aurora
Sai o pastor da cabana
Quase sempre à mesma hora
Sete dias na semana

Põe a capa e o mornal
E agarra no cajado
Dirige-se para o curral
Onde se encontra o gado

Abre a porta com jeitinho
A ver se está tudo bem
Vê se há algum cordeirinho
Que anda à procura da mãe

Berra a mãe pelo filho
Berra o filho pela mãe
Tem o dobro dos sarilhos
Aquele que dois filhos tem

Quando está tudo calado
Fica o pastor contente
Abre a porta com jeitinho
Vai saindo calmamente

Anda ao frio, anda ao vento
Anda ao calor do sol
Vai dormindo ao relento
Sem cobertores nem lençol

Faz a cama em qualquer lado
Sem pagar a pensão
Para guardar o seu gado
Dorme de cajado na mão

Estão os cães de espia
Para alertar o pastor
Quer de noite quer de dia
Eles trabalham com primor

Assobio para as ovelhas
E canto de vez em quando
Não faço isso à noite
Para que não saibam onde eu ando
Poema escrito por Aníbal Augusto Rodrigues, antigo pastor, 72 anos, Portela

Aníbal Augusto Rodrigues, 72 anos, ex-pastor, Portela

 

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